Um medo entre os pais tem se proliferado: o de frustrar os seus filhos. Este comportamento só confirma o medo de não saber como lidar com essas frustrações. Querer evitar que os filhos passem por esses momentos evita também que eles amadureçam e possam lidar com o que é inevitável na vida.
Por Fernanda Leal
Recebo com frequência muitas mães e pais. Alguns me procuram para atendimento individual, outros para que eu atenda seus filhos, e alguns apenas para orientação, para tirar dúvidas e tentar compreender melhor determinados comportamentos dos filhos. Há uma grande variedade de contextos e histórias trazidos, mas o medo de que determinadas atitudes parentais possam “traumatizar” os filhos se repete com certa frequência.
“O que mais espanta é o discurso por detrás do medo”
O que mais espanta não é o medo em si, mas o que encontro associado a esse medo, que demonstra o quanto os pais temem ter que lidar com uma insatisfação ou frustração dos filhos, acreditando por vezes que isso possa levar à desestruturação da criança.
Este discurso revela que muitos pais e mães tratam seus filhos como se fossem de vidro, como se qualquer coisa pudesse promover fissuras e quebras irrecuperáveis e como se eles pudessem evitar esses momentos de insatisfação.
“Uma criança precisa se frustrar. Este sentimento faz parte da vida e é saudável”.
Isso não é culpa da mãe ou do pai, devo ressaltar, já que tudo que acontece com os filhos tendemos a projetar como sendo deles ─ personagens familiares tão importantes e diversas vezes tão desamparados ─, mas fruto de um comportamento cultural e socialmente construído há anos. É importante esclarecer que uma criança que não se frustra, que não manifesta insatisfação ou desagrado, que não chora ou não reage contra algum tipo de privação ou desconforto, é no mínimo preocupante.
A frustração é algo necessário para a constituição psíquica dos sujeitos e a reação a isso é, a princípio, sinal de saúde. Sem contar que, na medida em que protegemos demais as crianças de possíveis insatisfações, prejudicamos a sua capacidade de lidar com as adversidades do mundo, as quais, sejamos realistas, são inevitáveis.
Se acreditamos que nossos filhos são frágeis demais para encarar determinadas situações, nós estamos antecipadamente incapacitando-os de aprender, dificultando sua possibilidade de adquirir recursos internos para lidar com os acontecimentos da vida, bons e ruins. Podemos encarar esses momentos de outra forma, como parte integrante do processo de crescimento, aprendizado e constituição, e ajudá-los a enfrentar com menos pesar, com mais tranquilidade. Afinal de contas, são coisas da vida.
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